Opinião: Mídia Física x Mídia Digital

 


É recorrente em alguns círculos de amizades, ou mesmo na mídia especializada, o debate à cerca da qualidade dos arquivos digitais versus mídia física. No entanto, acredito que esse debate deve ser encarado de uma forma um pouco mais abrangente, ampla, considerando diversos elementos no que podemos compreender como a experiência de ouvir um disco.

Nas coleções de mídia física, notadamente LP’s, esse experiência é muito abrangente, iniciando pelo aspecto visual, a arte da capa, seus detalhes e meandros. Quantos de nós, principalmente os mais "velhos" não acabaram por comprar um disco pela arte presente na capa. Você fica extasiado pela arte ali presente, sem suas mãos! Era levado pelo impulso, e acabava por comprar e levar o disco para casa. Além do aspecto visual, é claro, a escolha de um LP é uma experiência tátil, do toque, do sentir o disco, a capa em suas mãos. Parece algo irrelevante, mas esse elemento do toque, do sentir o LP era algo quase místico, mágico. A retirada do LP da capa pela primeira vez tinha exatamente esse sentido místico, era um acontecimento quase religioso, marcava o início da experiência musical.

O que nos leva a outro dado dessa experiência, o aspecto ritualístico envolvido. Colocar o disco na "vitrola", levantar o braço do toca discos, colocar a agulha no vinil, com extremo cuidado era seguido de enorme expectativa e ansiedade. O que viria a seguir? Como será o som do álbum? Principalmente se a música seria apreciada pela primeira vez. Era corriqueiro começar pelo lado A, ir até o fim, depois, virar o disco com cuidado, e recomeçar com o lado B. Alguns faziam exatamente o inverso. Esse ato de escutar o álbum por completo permitia ao ouvinte uma visão total da obra, principalmente em álbuns temáticos, como The Wall, do Pink Floyd, por exemplo, onde as faixas formam um conjunto harmonioso, era algo muito importante, dando relevância a cada faixa do disco, era uma verdadeira experiência sensorial.

Além disso, esse ritual era muitas vezes coletivo. Como o vinil era caro, muitosdeles, devemos lembrar, eram importados, o que nos levava a casa dos amigoscom nossa "fitinha" Basf, para gravar. Assim, era construído um ritualcoletivo.Chamar a turma de amigos para ouvir eram algo comum, você queriadividir aquele momento com seus melhores amigos, e isso nos leva a duasconsequências interessantes, desse processo: a primeira era o fortalecimento doslaços de amizade, que muitas vezes perduravam por uma vida inteira, e a segundaera a formação do ouvinte. Não apenas nossos sentido auditivo era educado., mastodos os aspectos envolvidos no processo levavam a isso. Papos de horas a fiosobre músicos ou bandas invadiam as tardes de domingo, ampliando nossa culturamusical. Algo muito importante e mais profundo do que podemos imaginar. Esseprocesso ocorria não apenas na escuta do LP, mas desde a sua aquisição. Quantosde nós não participaram de verdadeiras "expedições" em grupo rumo às lojas docentro de São Paulo, por exemplo. Essa experiência marcou muitos de nós peloresto de nossas vidas!

Os LP’s tinha também outro aspecto a considerarmos, os encartes. Lá era possívelencontrar a letra de cada música, a ficha técnica do álbum, elencando o nome dosmúsicos, do produtor, além, é claro, de mais uma vez, reforçar o aspecto visual doálbum enquanto verdadeira obra de arte. Acabamos por conhecer muitos dosprodutores lendários que ajudaram as lendas do rock a construir álbuns antológicose clássicos.

Logo, não apenas o aspecto do tipo técnico da mídia creio eu, deve ser levado emconta no debate. A mídia digital possui suas vantagens, é claro. Facilidade dearmazenamento, praticidade, já que podemos levar álbuns inteiros na memória deum smartphone ou então dispomos de serviços de streaming. Podemos ouvir aqualquer dia e a qualquer hora aquele álbum que tanto queremos ou apenas umamúsica que nos marcou em nossas vidas. Eles estão disponíveis em nossas mãos,a um mero toque na tela. Os lançamentos de novidades acabam por ocorrer antesnesses serviços de música online.

Enfim, procurei abordar aqui alguns aspectos relevantes desse debate,considerando que não devemos apenas nos ater apenas a qualidade da sonora damídia, mas, sobretudo, o tipo de experiência musical que ela nos proporciona. Não vou ficar aqui em cima do muro, confesso. Sou um cara formado naexperiência analógica. Para mim a experiência musical proporcionada pela mídiadigital formou não apenas meu caráter musical, mas sobretudo, ajudou a construiraspectos éticos e estéticos importantes em minha vida, além é claro de cristalizaramizades que mantenho até hoje. No entanto, isso não quer dizer que eu desprezeou menospreze a mídia digital. Levo comigo em meu smartphone álbuns inteiros etenho meu serviço de música online favorito, que utilizo no ônibus, no metrô oucorrigindo provas na escola.

E você, caro leitor, já parou para pensar sobre qual tipo de mídia lhe proporcionauma experiência musical mais ampla? Creio que essa é uma bela e importantereflexão em nossa existência enquanto fãs da música, e por que não dizer, do velhoe bom rock and roll. Um forte abraço!

Longa vida ao Rock!

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